Cientistas afirmam estar próximos da cura para o autismo
Dificuldade de comunicação com as pessoas em volta e comportamentos repetitivos: essas são as características do Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma doença encarada como uma condição permanente. Ou seja, sem cura, quem nasce com esse problema o leva para toda a vida. Os cientistas já admitem caminhos para um possível tratamento que pode acabar com a doença, é o que afirma o neurocientista brasileiro Alysson Muotri, Ph.D. em Genética e professor do departamento de pediatria e medicina molecular da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA). Atualmente os pesquisadores estão conseguindo resolver aos poucos esse “jogo de quebra-cabeças” relacionado às bases neuro-genéticas do autismo, apesar de haver poucos laboratórios dedicados ao tema. Segundo o professor, tem-se combinado o estudo das alterações genéticas implicadas ao transtorno com suas consequências celulares durante o desenvolvimento dos neurônios. “Ao estratificar o espectro autista, ou classificar separadamente, podemos sugerir melhores tratamentos e até uma medicina personalizada em alguns casos”. Muotri é um dos responsáveis por estudar a fundo as causas do autismo. Segundo o cientista, o trabalho de atuação de sua equipe tem se desenvolvido em duas vertentes: a primeira procura entender como as mutações em genes relacionados ao autismo causam defeitos sinápticos em células do sistema nervoso. E a segunda parte está relacionada à busca de novas drogas que sejam efetivas na reversão de sintomas do TEA. Esse assunto será o tema principal de sua palestra no ConAutismo, o Congresso Nacional e On-line Sobre Autismo, que acontece dos dias 14 a 20 de março. O evento é gratuito e contará com a participação de médicos, fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos, terapeuta ocupacional, pais e familiares, organizações e associações. Pretendo explicar como e porque é possível obter a cura do autismo. Infelizmente, há poucas instituições interessadas nisso. Por esse motivo, acho importante o público leigo entender o que é preciso para que surjam novos tratamentos. O processo cientifico é confuso para a maioria das pessoas. Então, espero também esclarecer como isso é feito – ressalta. Mas para compreender melhor os mecanismos biológicos existentes nesse transtorno para encontrar a cura, é preciso ter bons materiais para análise e que não demandem muitos custos. A principal ferramenta para a equipe do Dr. Muotri está sendo o projeto internacional “Fada do Dente”, que acontece também no Brasil. Por meio dele, são recolhidas células de indivíduos autistas e não-afetados de uma forma não invasiva, ou seja, recebendo dentes de leite pelo correio. “Isolamos as células da polpa do dente e as transformamos em ‘mini-cérebros’ no laboratório”. Segundo Muotri, esses “mini-cérebros” são representativos de cada indivíduo, pois contém o genoma da pessoa. Eles recapitulam as fases iniciais do desenvolvimento cerebral embrionário. “Só no Brasil temos mais de 3500 famílias cadastradas e mais de 300 linhagens celulares”. “Isso tem auxiliado na descoberta de novos genes implicados no autismo e no teste de drogas candidatas. É um material importantíssimo para acelerar novos tratamentos para indivíduos autistas”, reforça. Por meio desse trabalho, permitiu-se descobrir que o TEA faz com que um tipo celular do cérebro, chamado de astrócito, produza uma toxina que atrapalha a formação de sinapses, atividades responsáveis pela comunicação entre os neurônios, ou células nervosas. “Isso já não acontece nas pessoas que não possuem esse transtorno”. “É um dado fascinante, pois por muitos anos os estudos têm focado muito em neurônios e dado pouca atenção aos astrócitos. Nossos resultados são provocativos, pois mostram que essas duas células do cérebro conversam bastante. A pesquisa abre novas oportunidades terapêuticas para o autismo, caminhos que nunca tinham sido explorados anteriormente e que são passivos de reversão. É muito empolgante”, revela. Mas o grande desafio vem sendo o financiamento. Segundo ele, o projeto é muito caro e a equipe recebe poucos recursos vindo de verbas do governo americano e do estado da Califórnia. O restante vem da filantropia, principalmente de famílias americanas. “Acabo gastando muito do meu tempo ‘correndo atrás’ de suporte financeiro. Por isso digo que o problema agora não é mais ‘como’ e sim ‘quando’, pois temos toda tecnologia necessária para descobrir a cura dos sintomas do autismo”, relata. (Uol)
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